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BC cumpre expectativa e sobe juros em 1 ponto, a 13,25%

Reunião do Copom encerrada nesta quarta (29) marcou a primeira de Gabriel Galípolo como presidente da autarquia
João Nakamura, da CNN, em São Paulo
Primeira reunião de 2025 do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil
Primeira reunião de 2025 do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil  • Brasília, 29/01/2025 - Raphael Ribeiro/Banco Central
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a subir a taxa básica de juros do país em um ponto percentual. Desse modo, a partir desta quarta-feira (29), a Selic passa a ser de 13,25% ao ano. O colegiado votou unanimemente pelo ajuste.

"O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista", afirmou o Copom em seu comunicado.

"Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", pontuou.

A nota do BC voltou a chamar atenção para o cenário externo, que permanece desafiador, principalmente, pela "conjuntura e política econômica nos Estados Unidos, que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed".

Mais cedo, o Federal Reserve, o banco central dos EUA, interrompeu seu ciclo de afrouxamento monetário, apontantando para incertezas no horizonte e cautela à espera dos efeitos na economia por parte das políticas do recém-empossado presidente Donald Trump.

Olhando para o Brasil, o Copom indica que a atividade econômica e o mercado de trabalho permanecem aquecidos, pressionando a inflação e mantendo o desequilíbrio para alta dos preços nas perspectivas futuras.

Entre os fatores que pesam para uma inflação pior, o BC destaca:

  1. Uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
  2. Uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo;
  3. Uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

O Copom voltou a ressaltar que segue acompanhando a repercussão das contas públicas do governo e seu impacto nos juros e nos ativos financeiros.

"A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", pontuou o colegiado em seu comunicado.

Em dezembro de 2024, ao elevar os juros pela terceira vez desde a retomada do ciclo de aperto monetário, o BC já havia subido a Selic no mesmo ritmo.

Entre agosto de 2023 e maio do ano passado, o Copom conduziu um movimento de queda dos juros, até estabilizá-los em 10,5%. O endurecimento da política do BC voltou em setembro, quando a autoridade monetária indicou incertezas no cenário econômico, uma alta dos preços resiliente acima da meta e a desancoragem das expectativas de inflação no mercado.

Com as incertezas, os diretores da autarquia passaram algumas reuniões sem indicar um forward guidance, a sinalização sobre seus próximos passos. A indicação voltou a ser dada na última reunião de 2024, quando o BC apontou que subiria a Selic em um ponto nas duas primeiras reuniões de 2025.

Parte da promessa foi cumprida agora em janeiro. Nesta quarta, o Copom reforçou compromisso com o guidance sinalizado anteriormente, e disse que deve realizar uma alta de mesma magnitude na próxima reunião, levando a Selic a 14,25% em março.

"Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", concluiu.

O mercado, porém, avalia que o ciclo de aperto não vai parar por aí. Segundo o boletim Focus, que é compilado pelo BC, os agentes econômicos veem a Selic encerrando o ano em 15%.

Expectativas de inflação

Ao elevar os juros, o BC "encarece" o dinheiro ao subir o custo para se tomar empréstimos. O objetivo é diminuir a demanda por crédito que, consequentemente, ameniza o consumo e a inflação.

A autarquia trabalha com um sistema de metas, buscando manter a inflação num alvo de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Em 2024, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país calculada pelo IBGE, encerrou em alta de 4,83%, por tanto, estourando o teto da meta.

E as expectativas do mercado seguem deteriorando para a inflação de 2025. O Focus divulgado nesta segunda-feira (27) aponta que os preços devem encerrar o ano subindo 5,5%.

Copom renovado

Esta foi a primeira reunião do Copom com Gabriel Galípolo como presidente da autarquia. Outros três indicados do governo Lula - Nilton David, Gilneu Vivan e Izabela Correa - também participaram de sua primeira decisão de juros nesta quarta.

Presidente e diretores do BC tomam posse; da esquerda para a direita: Gilneu Vivan, Gabriel Galípolo, Izabela Correa e Nilton David • Raphael Ribeiro/BC
Presidente e diretores do BC tomam posse; da esquerda para a direita: Gilneu Vivan, Gabriel Galípolo, Izabela Correa e Nilton David • Raphael Ribeiro/BC

Logo que assumiu a presidência da autarquia no começo deste mês, Galípolo teve de se preparar para prestar explicações ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Quando a inflação estoura a meta perseguida pelo BC, a autarquia deve endereçar uma carta pública ao chefe da equipe econômica realizando um diagnóstico detalhado das causas por trás do descumprimento, um receituário para levar a inflação de volta à meta e o prazo esperado para que os efeitos sejam atingidos.

Em sua carta a Haddad, Galípolo chamou atenção para o peso sobre a inflação por parte do câmbio, do ritmo de crescimento da atividade econômica e de fatores climáticos.

A autoridade monetária indicou que a inflação deve ficar acima de 4,5% até o terceiro trimestre deste ano e então começar a cair, mas ainda mantendo-se acima do alvo da meta.

Para assegurar o controle dos preços, Galípolo se comprometeu a manter o aperto monetário.

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